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NERD

Por: Propmark | Flavio Waiteman CCO-founder da Tech & Soul
NERD

Todas as universidades de comunicação do país deveriam ter uma matéria especifica chamada História da Publicidade Contemporânea I e II. Na cadeira I, o futuro publicitário aprenderia sobre a história dos publicitários icônicos brasileiros. A formação, a trajetória, o trabalho dissecado em fases no contexto histórico da sociedade e da época em que viveram. E na matéria II, o mesmo com ícones globais da publicidade.

Falta amor ao nosso ofício. O mesmo amor que o curso de cinema desperta em seus alunos. No curso superior de cinema existem matérias importantes de formação técnica, como história da arte, fotografia. Mas se estudam, da mesma forma, os grandes cineastas, sua trajetória. Os jovens adquirem opinião aprofundada sobre diretores e fotógrafos preferidos. Conhecem sua obra. Investem tempo de formação assistindo, comparando e dissecando as obras dos grandes. É um mergulho quase obsessivo sobre a história dos grandes nomes da comunicação. Na faculdade de publicidade, a gente vê alguma coisa sobre grandes profissionais do momento, mas nada comparado a esse exemplo. O jovem estudante de cinema sabe de cor o top 5 dos filmes de Almodóvar, Tarantino,  Antonioni, Copolla, George Lucas etc.

Com o conhecimento sobre os grandes talentos e sua obra na publicidade, teríamos jovens bem mais preparados no mercado de trabalho. Saber quem é PJ Pereira, que liderou a implementação do digital na publicidade brasileira e global, é fundamental. Washington, que criou tanta cultura a partir da publicidade, que talvez seja o único talento verdadeiramente artístico dentro da publicidade e o publicitário mais bem-sucedido que temos notícia. Ercílio Tranjan, um dos que tiraram as pedras do caminho para que outros pudessem apertar o passo na criatividade e ousadia. Dualib, Petit e Zaragoza. Três cabeças e três personalidades diferentes, mas que soavam como uma entidade única no entendimento da emoção coletiva do nosso país. Júlio Ribeiro, que era o criativo estrategista e sendo tão estratégico implementou o planejamento em nossa indústria. Isso o tornou um dos empresários mais bem-sucedidos e generosos que já existiram, segundo quem já trabalhou com ele. A Magy, a Ana Carmen, o Salles, o Nizan, o Fabio e na sequência deles todos os nomes de rua: Luiz Sanches, Edu Martins, Miguel Benfica, Dulcídio, o Beto e o Renato Fernandes, Itagiba, Camila, Marcelo Pires, Marcelo Machado, e mais aqueles que eu esqueci de citar aqui, mas você com razão ficou indignado comigo e lembrou. Uma análise profunda do trabalho desses profissionais de publicidade em criação, planejamento e mídia seria uma ótima formação a esses jovens talentos.

Hoje em dia, há um certo pudor em reconhecermos os grandes publicitários e sua obra. Parece que a história da humanidade começou em 1990. Mas a interatividade entre comunicação e pessoa sempre existiu. Muitas vezes, acontecia com um click na cabeça e um like invisível no coração das audiências. O ROI? A era das grandes marcas que todo mundo adorava e fazia parte da cultura popular. Além de muito sucesso em marca e vendas.

Faltam nerds de publicidade. Nerds falando nerdices de publicidade. Anuários nas mesas. Em papel, já que o papel é o elemento mais moderno e sustentável que existe. Faltam redatores que decoraram títulos inesqueciveis. Diretores de arte que copiem o Tomas Lorente em segredo. Se a Nasa depois de 50 anos não sabe exatamente como fez o projeto Apolo e como o homem foi à lua. Se o ser humano esqueceu completamente como foram construídas as pirâmides do Egito e, se hoje em dia existem milhões de pessoas no mundo que não reconhecem a importância das vacinas, a gente precisa cuidar melhor de nossa arte, de nosso negócio e dos gigantes que nos trouxeram até aqui. Toda faculdade, universidade, curso técnico e estante de nerd precisariam ter a obra desses craques unificada, selecionada, explicada pronta para as próximas gerações. Um publicitário vive de ideias e essa minha ideia é para manter a ótima publicidade viva. Alguma universidade se habilita?